A mais elevada das virtudes

A MAIS ELEVADA DAS VIRTUDES

Talvez não sejamos capazes de nos dar conta disso, mas desejamos profundamente a energia da bondade, sentimos fortemente sua falta, pois, sem sua presença, nosso coração não pode experimentar verdadeira felicidade e nossa consciência se expandir.

A bondade é tão essencial que até para entendê-la precisamos dela. Ao fluir divinamente em nossas vidas, ela nos ajuda a encontrar e a seguir o roteiro maravilhoso que o Criador preparou para nós. Como um beija-flor, a bondade precisa ser atraída. Como fazê-lo? Basta cultivarmos um jardim florido de virtudes dentro de nós para que ela se aproxime, nos envolva e nos fecunde com sua energia construtiva. É claro que as circunstâncias externas podem ajudar, mas, para que se estabeleça em nossos corações, no âmago do nosso centro divino, a bondade tem que ser cultivada internamente. Por outro lado, se nos deixarmos levar pelas queixas, lamentações, mágoas e acreditarmos em injustiças alheias, simplesmente iremos repeli-la e daremos as costas a ela.

A bondade só permanece na companhia do indivíduo que entendeu definitivamente que ninguém ou nada pode lhe prejudicar, a não ser o mau uso do seu próprio livre-arbítrio; este, sim, é o responsável pela sua própria cegueira e escuridão. Desse modo, a chave para o “ser feliz” ou o “ser infeliz” ou a dita passagem para o “céu” ou o “inferno” está nas mãos de cada um de nós! Tudo depende, antes de mais nada, do nosso próprio livre-arbítrio. No entanto, o que significa “livre-arbítrio”? O que há por trás desse componente tão misterioso, místico e emblemático?

Trata-se do maior presente de Deus a cada um de nós. O livre-arbítrio é a partícula de independência divinal que nos cabe, é uma espécie de onipotência minúscula, sublime e sagrada. Acima de tudo, é uma amostra da natureza generosa e liberal de Deus, uma prova cabal de que podemos confiar Nele; que, apesar de todo-poderoso, entrega em nossas mãos a decisão de aceitarmos ter ou não um caso de amor espontâneo com Ele.

Mas por que o bondoso Deus plantou no paraíso “a árvore do bem e do mal”? Por que, querendo-nos bons, Ele colocou diante de nossos olhos a tentação do mal? A resposta é que Ele não nos quer simplesmente bons, muito menos simplesmente maus – Ele nos quer conscientemente bons e conscientemente não maus.

Qual seria a diferença entre nós e a natureza? A natureza é boa porque é uma manifestação direta de Deus; ela é sempre boa porque não convive com a possibilidade do bem e do mal; por ser inconscientemente boa, ela Lhe obedece impecavelmente. Para entendermos melhor isso, nada melhor do que nos valermos da filosofia vedānta, que afirma que o Senhor possui infinitas energias, três que são as mais importantes.

1. Sua energia espiritual, que é Sua própria potência interna superior, responsável pela existência do mundo espiritual e por todas as atividades transcendentais que lá acontecem.

2. A energia material, que é considerada Sua potência externa e inferior. Embora ela cumpra a função de dar existência ao mundo material, onde há condições perfeitas para o aprendizado de todos os seres vivos, ela é considerada inferior por não ter vida própria.

3. Os seres vivos que, embora originalmente façam parte da potência interna do Senhor, possuem independência parcial e, portanto, ora estão no mundo espiritual, ora se encontram no mundo material.

É a presença do ser vivo na matéria que faz com que ela apresente vida. Sem sua presença neste mundo, a matéria não poderia manifestar nenhum sinal de consciência. Um bom exemplo disso é a presença da alma num determinado corpo. Enquanto ela está no corpo, este apresenta consciência, mas, tão logo ela o abandona, todos os sintomas de vida desaparecem. A matéria, portanto, não possui vontade própria, mas segue rigidamente a vontade do seu criador. De fato, a imensa variedade da natureza é plenamente obediente à vontade suprema: a flora, a fauna, toda manifestação orgânica, todo tipo de vida sensitiva, os astros do cosmos; enfim, tudo funciona perfeitamente porque nenhum deles tem a liberdade de se desviar das ordens marcadas pelos Seus roteiros precisos, nenhum deles é livre para sair dos traços exatos das Suas órbitas, nenhum aspecto da natureza conseguiria cometer algum pecado contra a soberania do Senhor. Por quê? Porque lhes falta a ciência do bem e do mal, uma vez que a natureza não possui livre-arbítrio. Já que está sob o controle absoluto de Deus – e o mal não existe Nele – a natureza é incapaz de praticar o mal. Por isso, encontramos em Gênesis a afirmação de que, depois de terminar a obra da Sua criação, o Senhor viu que “tudo era bom”. Entretanto, no que se refere ao ser vivo, ele é consciência e, diferentemente da matéria, tem vontade própria, tem liberdade de escolha, tem livre-arbítrio. Como é consciência, o ser vivo é efetivamente muito bom, mas possivelmente muito mau; ele é potencialmente perfeito, mas tendencialmente imperfeito. Mas como um ser em condições de optar pelo mal e com tendência à imperfeição pode ser considerado superior? Ora, uma criatura necessariamente boa é um ser limitado, ao passo que uma criatura com liberdade de ser espontaneamente boa é um ser com potencial de bondade ilimitada. Portanto, aquele que escolhe voluntariamente ser bom, mesmo tendo a possibilidade intrínseca de ser mau, sem dúvida é superior a um ser bom que nem mesmo tem a possibilidade de ser mau. Este tema nos remete à elucidativa parábola do filho pródigo.

Consta que o filho mais novo de um determinado fazendeiro pediu seu quinhão e, então, partiu para terras longínquas, onde esbanjou sua fortuna de forma irresponsável. Depois de muito sofrimento, ele se lembrou de que até os empregados de seu pai estavam numa situação muito melhor do que a dele. Arrependido, decidiu ir ao encontro do seu pai. Ao vê-lo regressar, o pai comovido o recebeu calorosamente e organizou um grande banquete para celebrar seu retorno. Nesse ínterim, o filho mais velho, que estava trabalhando no campo, regressou e, ao se deparar com a comemoração, desaprovou a conduta do seu pai; afinal, ele tinha permanecido sempre fiel a ele e nunca recebera nenhum reconhecimento por isso. “Meu filho, tu estás sempre comigo”, explicou o pai, “mas não podemos deixar de nos alegrar por teu irmão que estava perdido e acaba de retornar”.

Essa é uma parábola clássica que é geralmente usada para mostrar a misericórdia de Deus para com um pecador. Trata-se de uma das narrativas mais profundamente esclarecedoras de Jesus, um texto místico e cósmico que nos ajuda a entender por que o homem foi criado à imagem e semelhança de Deus. O que de tão inédito possui o homem que o coloca nessa posição tão privilegiada? Nota-se que, diferentemente da natureza material, ele possui livre-arbítrio e, portanto, não é autômato à vontade de Deus, e, sendo dotado da ciência do bem e do mal, pode cumprir voluntariamente a vontade divina, assim, alcança sua glória e perfeição. Como mencionamos, o livre-arbítrio é a partícula de independência divinal que nos cabe, é uma espécie de onipotência minúscula, sublime e sagrada. A criação deste mundo material, somada à generosidade divina em conceder o livre-arbítrio ao ser vivo, é Sua maneira genial de testar e, quem sabe, provar o amor do ser vivo por Ele; é a forma perfeita de fazê-lo conhecer o mal e decidir, por sua livre escolha, ignorá-lo e, ao mesmo tempo, ser verdadeiramente bom; ser bom de forma consciente e espontânea.

É claro que as circunstâncias externas podem influenciar o exercício do nosso livre-arbítrio – especialmente se estivermos cegos para a autorrealização –, mas nada pode justificar definitivamente seu mau uso. Já que a responsabilidade pelo nosso livre-arbítrio é unicamente nossa, somos nós os autores da nossa vitória e felicidade, assim como somos nós também os causadores da nossa derrota e agonia.

Quem busca a bondade fora de si mesmo ou tenta forçar os outros a agirem com bondade para com ele, está na direção contrária a ela. Em contraste, aquele que busca a bondade para poder partilhá-la com os outros de forma incondicional – e não para seu próprio bem –, irá atraí-la, até porque a verdadeira bondade é abnegativa. Se a assim chamada bondade de um indivíduo depende de como as outras pessoas lidam com ele, ele será frequentemente distraído por sentimentos inferiores e se desviará facilmente dela. Por outro lado, a bondade de uma pessoa virtuosa é desinteressada, como é comum entre pessoas plenamente satisfeitas.

2 Comentários
  1. Geisiane 4 anos atrás

    Mestre , gratidão por tudo que faz ! Deus é só amor e tem tem seus mensageiros 🙏🏽

  2. Geisiane 4 anos atrás

    Gratidão pela oportunidade desse processo de cura ,por ser luz e resgatar nossa almas . Minhas humildes e sinceras reverências 🙇🏻‍♀️📿🙏🏽 Todas as glórias a Srila Prabhupada!

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