Como controlar a mente: Prática constante e desapego

Como Controlar A Mente

COMO CONTROLAR A MENTE: PRÁTICA CONSTANTE E DESAPEGO

Pergunta: “O que é a mente, qual é sua natureza, seu papel e qual é a relação entre ela, a inteligência, os sentimentos e as emoções?”. 

Basta pesquisarmos o que os grandes filósofos, como Sócrates, Platão, Spinoza e tantos outros, falaram a respeito da mente e veremos que estamos diante de um tema muitíssimo complexo.

Suas opiniões são muito distintas – isso para não falar dos escritos de Freud ou de Marx sobre isso. Portanto, admito que não irei esgotá-lo. Enfim, para quem gosta de especulação filosófica, tem assunto para muitas vidas. O problema da especulação é que de tanto remoer um tema, o especulador acaba ficando com ainda mais perguntas do que respostas (…). Portanto, para evitar isso, a minha abordagem se baseará na Bhagavad-gītā, e começo citando especificamente o capítulo quinze, onde Kṛṣṇa compara o enredamento da alma neste mundo a uma grande figueira-de-bengala com seus inúmeros galhos – alguns se estendendo para baixo e outros, para cima.

Em seguida, Ele afirma: “Não se pode perceber a verdadeira forma desta árvore neste mundo. Ninguém pode compreender onde ela acaba, onde começa, ou onde ela se alicerça. Mas com determinação deve-se derrubar esta árvore com a arma do desapego”. Ora, “se não é possível entendermos completamente o nosso enredamento nesse mundo”, não podemos também entender completamente a mente, uma vez que ela é a grande responsável por este enredamento. Por isso, Kṛṣṇa recomenda a prática do desapego.

A mente pode ser comparada a uma criança mimada e agitada. Não adianta – e nem é preciso – tentar entender detalhadamente o que acontece com essa “criança”. Seria uma perda de tempo tentar entender detalhes sobre como essa “criança” se tornou tão mimada e tão obstinada por certas coisas. O melhor a fazer é nos empenhar em reeducá-la, reprogramá-la. Isso também é mencionado numa parte do diálogo entre Kṛṣṇa e Arjuna no final do capítulo seis, que é dedicado à meditação, “dhyāna”. Nesse contexto, Kṛṣṇa recomenda que o espiritualista procure um local sagrado e procure se isolar. Em seguida, para tentar controlar a mente, ele deve se sentar com o corpo, o pescoço e a cabeça ereta e, através de um sistema específico de respiração, ele deve purificar seu coração, olhando fixamente na ponta do seu nariz, etc. Enfim, para tornar a mente do praticante plácida – assim como uma vela não tremula num local sem vento – Kṛṣṇa apresenta muitos detalhes e enfatiza que a meta é alcançar o samādhi, um estado em que a mente se absteve por completo das atividades mundanas e se fixou no transe da autorrealização. Enfim depois da apresentação de Kṛṣṇa (que possui muito mais pormenores), Arjuna teve uma reação muito significativa, argumenta o seguinte: “Kṛṣṇa, este sistema que Tu acabas de me apresentar me parece inviável e impraticável, pois a mente é incontrolável”.

Arjuna diz ainda que: “Me parece mais fácil controlar o vento do que a minha mente, já que ela é cañcalam, flutuante; pramāthi, turbulenta; balavat, muito forte e dṛḍham, obstinada”. Quem não concorda com isso? Quem não concorda sobre as dificuldades de conter a mente? Até o próprio Kṛṣṇa concordou com Arjuna! Quanto a isso, Kṛṣṇa fala dois versos que eu considero versos-chaves para qualquer aspirante à espiritualidade (Gītā 35-36). Ele diz: “Querido Arjuna de braços poderosos, é, de fato, muito difícil refrear a mente inquieta. Mas isso se torna possível através de duas coisas: abhyāsa, “prática adequada e constante” e vairāgya, “desapego”. Como acabamos de ver, o tema “desapego” aparece novamente. Ou seja, não adianta gastarmos muita energia e tempo tentando entender a mente até porque esse procedimento irá torná-la ainda mais forte. Portanto, Kṛṣṇa diz, vairāgya, “se desapegue!”. Numa das suas maravilhosas palestras, Śrīla Prabhupāda fala que devemos simplesmente cantar Hare Kṛṣṇa e fazer pouco caso da mente, não dando muita atenção a ela. Isso é o significado prático de vairāgya.

Sabemos que a mente é uma ferramenta sutil, cujas funções são “sentir, pensar e desejar”. Então, vamos tentar simplificar as coisas. Portanto, para executar suas funções, a mente tem duas opções. Ou ela parte do ponto (absolutamente equivocado) que nós somos o corpo material e, assim produz sentimentos, pensamentos e desejos atrelados ao interesse do corpo. Ou ela parte do ponto correto de que somos almas espirituais. Nesse caso, ela produzirá sentimentos, pensamentos e desejos ligados ao interesse do despertar da alma. Simples assim. Se partimos do ponto equivocado que somos este corpo, essa personalidade imaginada e criada pelo ego falso, iremos nos entregar a pensamentos sobre como agradar a nosso ego falso, sobre como servi-lo e, finalmente, iremos desejar tudo que venha na direção de alimentar e gratificar nossa falsa personalidade. Então, ao dizer vairāgya, “se desapegue!”, Kṛṣṇa recomenda que superarmos a identificação corpórea. Como fazer isso? Nos identificando com nosso Eu verdadeiro, que é brahman, espiritual.  Ahaṁbrahmāsmi, “Eu sou um ser espiritual”, e o que significa isso? Segundo Caitanya Mahāprabhu significa, jīvera ‘svarūpa’ haya — kṛṣṇera ‘nitya-dāsa’. Ou seja, entender que eu sou brahman, espírito, é muito subjetivo. Por isso, Caitanya foi além disso e afirmou objetivamente: a natureza original de todo ser vivo, ou svarūpa, é kṛṣṇera ‘nitya-dāsa, amantes eternos de Kṛṣṇa e, portanto, dedicados a Seu serviço.

Enfim, se queremos controlar totalmente nossa mente, temos que partir deste ponto: “Eu sou uma alma espiritual, sou parte integrante de Kṛṣṇa e a minha existência alcançará a máxima perfeição se agir com base na minha relação amorosa com Ele”. Naturalmente, quando partirmos deste ponto, nosso “sentir, pensar e desejar” funcionará de modo a fortalecer essa nossa convicção espiritual. Então, ao cantarmos Hare Kṛṣṇa, realizaremos que somos almas espirituais e que, apesar de serem coberturas da alma, nossos corpos são perfeitos para cumprirmos com a missão a vida humana, que é a autorrealização espiritual. Junto a essa realização, nossa mente irá produzir sentimentos, pensamentos e desejos espirituais: “Eu preciso me associar com pessoas puras, avançadas em conhecimento e prática, preciso me alimentar com pureza, e santificar o meu alimento, oferecendo-o a Kṛṣṇa, desejo ler os livros devocionais, quero me organizar para ter mais tempo para cantar os santos nomes, etc.  (…) Continua amanhã… C. Swami

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