Karma-yoga, o yoga da ação
Fazendo jus ao seu nome, karma-yoga significa “yoga da ação”. Assim como o haṭha-yoga prepara o praticante para executar práticas espirituais através de um corpo saudável e de uma mente equilibrada, o karma-yoga busca qualificar a alma para se ligar a Deus através do agir correto, ensinando-a a focar no cumprimento do dharma (dever) com firmeza, independentemente do êxito ou do fracasso, da felicidade ou da aflição. Essa ação correta é possível de ser realizada se nos livrarmos das expectativas materiais e dos interesses egoístas. Eis o grande desafio do karma-yogī!
À medida que logra o êxito de agir sob a égide do amor e sem buscar por recompensas, o karma-yogī se livra das reações cármicas e recebe a influência da energia da bondade (sattva-guṇa), tornando-se capaz de acessar as verdades espirituais. Por isso, a Bhagavad-gītā define karma-yoga como um estado estoico de consciência no qual o praticante foca dentro de si e alcança samatvam, “equanimidade” ou “serenidade”. Satisfeito consigo mesmo, ele pode agir sem se apegar às situações favoráveis e sem odiar as ocorrências desfavoráveis. (Gītā. 2.48)
Outra importante definição que tem relação com karma-yoga é a declaração de Kṛṣṇa de que yoga e renúncia da ação (sannyāsa) estão interligados, uma vez que ninguém se fixa em yoga sem abandonar mentalmente seus desejos egoístas (Gītā 6.2). Além disso, a Bhagavad-gītā deixa claro também que a inação nem sequer é uma opção para uma alma corporificada (Gītā 3.5), uma vez que até mesmo os iluminados agem de acordo com sua natureza particular (vale lembrar que até a assim chamada meditação no vazio também é um ato). Em outras palavras, a diferença fundamental entre o insensato e o sábio não está na ação em si, mas no interesse em executá-la. Ambos agem, mas enquanto o primeiro o faz movido ao apego e, portanto, aferrando-se aos resultados, o segundo, o sábio desapegado, almeja unicamente o bem do mundo (Gītā 3.25). Eis uma boa definição de karma-yoga: “Estando consciente da sua natureza espiritual eterna, o yogī entrega todas as ações a Deus e se mantém livre tanto da possessividade quanto do anseio”.
Obs.: O principal texto clássico que apresenta karma-yoga é a Bhagavad-gītā (Vyāsadeva).